Apanhado da Semana #05 – Delírios comunistas; Juliana Paes; e Francisco, El Hombre

A semana foi marcada pelos cruciais depoimentos de duas médicas, de alguma forma ligadas ao governo Jair Bolsonaro, à CPI da Covid. A desfaçatez de Nise Yamaguchi gerou revolta em uma população sufocada em todos os aspectos. Já o rigor científico e tardio de Luana Araújo rendeu acalorados elogios.

É aí que a atriz Juliana Paes entra na história, ao esquecer providencialmente de suas origens e desejando conservar seus privilégios conquistados, coloca-se ao lado dos arquitetos deste cemitério a céu aberto em que nos encontramos.

Em nome de um falso equilíbrio e criticando a tal da polarização, deixa escapar exatamente de que lado está, ao desfilar, sem constrangimento, mas com uma humildade quase franciscana, aberrações como “delírios comunistas”. Tudo bem, esse discurso é lucrativo.

Mas é preciso destacar polarização de radicalização. E sim, vivemos um momento de radicalização. A dita polarização sempre esteve aí e se radicaliza quando lados abusam da democracia, contestando resultados das eleições e, posteriormente financiando um golpe contra uma presidente democraticamente eleita.

Os abusos de um dos polos deixaram escapar momentos inaceitáveis como apologia impune à tortura, mas isso nunca assustou à Juliana Paes. Quem não se lembra quantas vezes Bolsonaro disse que não aceitaria os resultados das eleições e continuou contestando mesmo depois de eleito, colocando em xeque o sistema eleitoral e, junto com ele, a democracia? Aécio Neves já havia feito parecido antes. Mas Juliana Paes nunca se assustou com isso. Ela tomou as dores de uma médica que vem desdenhando da vida dos brasileiros desde o início da pandemia, servindo a um projeto político que é indubitavelmente genocida.

A chamada radicalização, o delírio comunista mesmo, não vai aceitar mais que uma pessoa privilegiada sente impunemente numa cadeira do Senado e se sinta confortável para mentir enquanto lamentamos as partidas de nossos entes queridos, quando avança brutalmente a insegurança alimentar e o desemprego, tudo justificado por falsas narrativas alimentadas por robôs e gerenciadas por gabinetes paralelos.

Onde estava Juliana Paes quando Bolsonaro violentou Dilma Rousseff ao homenagear seu torturador durante o voto pelo impeachment? Onde estava a artista nos últimos 30 anos a não ser vestindo verde e amarelo com outros privilegiados, escudados por escolhas muito difíceis?

Roda, mundo, que a terra não é plana e o sol, veja que radical, jogou luz sobre os muros.


Francisco El Hombre – Roda Viva

A banda pegou o clássico de Chico Buarque, lançado no contrapé do AI-5, e conectou a 2021, renovando seu arranjo e até alterando uma parte da letra, quando troca “mulata” por “garota” e, sem mudar a mensagem da obra, serve à luta antirracista.


Fiz um pouco diferente e gostaria de comentar outros lançamentos da semana, mas o tempo só me permitiu essas palavras. Para mais cultura, @PitayaCultural.

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